"Então moça, que é feito de ti?" - Perguntarão vocês...
Bem, desde a última vez que publiquei aqui, já dei tantas voltas que é complicado condensar tudo num post. Vou então tentar resumir.
Eu andava a ver se arranjava algum trabalho, para sair do mar de frustrações que estava a passar por ter o curso por acabar (e me estar a custar imenso acabá-lo, mais do que qualquer outra coisa que eu já tenha passado). Depois de responder a centenas de ofertas de emprego (sim, centenas, desde limpezas a restaurantes), depois de fazer mil e um curriculos diferentes (nuns omitia a minha licenciatura, noutros adulterava o tempo que trabalhei nos empregos que tive nos últimos 7 anos) e não receber quaisquer tipos de resposta, depois de ir a duas entrevistas extremamente tristes e que me fizeram voltar para casa completamente deprimida, frustrada e inutil, acabei a trabalhar para uns chineses. Foi por intermédio da namorada do meu pai que consegui esse "biscate" que consistia em limpar um armazém gigantesco, montar expositores e colocar os artigos nos mesmos, SOZINHA! Foi horrível. Não via ninguém o dia inteiro, não recebia praticamente instruções nenhumas e chegava ao final do dia completamente podre. Já trabalhei em todo o tipo de coisas, mas nunca um trabalho me custou tanto como este. Estava já a ponderar desaparecer, sentia-me frustrada e odiava o rumo que a minha vida estava a tomar (ou que sempre teve), já andava a dizer à minha irmã e namorado que não tardaria muito e desapareceria daqui, e iria para outro sítio do mundo, e sem dizer nada a ninguém. Já andava eu à beira do desespero, sem saber se haveria de estar grata por ter um trabalho (que me fazia sentir miserável) ou se só andava a afundar mais a minha vida, até que, numa pausa de almoço, recebi uma chamada do meu namorado (por acaso até estavamos um bocado chateados na altura).
Ele estava todo entusiasmado do outro lado, a dizer-me que tinha óptimas noticias para mim. Falou-me que tinha aberto um novo café na zona histórica da minha cidade, que era a minha cara, e que estavam a precisar de alguém para fazer as noites. Disse-me que tinha falado com a rapariga que era responsável e que ela ficou super interessada em me conhecer, e que eu tinha que passar lá o mais rápido possivel.
Eu, conhecendo o meu namorado que se entusiasma facilmente, não fiquei eufórica como ele, nem fui atacada por uma onda de optimismo, porque tudo me andava a correr mal e aquilo parecia-me bom de mais para ser verdade (e como não tenho a sorte de ter muitos desses momentos ao género " bom de mais para ser verdade", não acredito muito neles). Mesmo assim saí um pouco mais cedo da tortura que era o meu trabalho, e lá fui conhecer o espaço e a moça de que o meu namorado tinha falado tão bem.
Quando cheguei, percebi que não precisava de impressionar a rapariga simpática que me recebeu, porque o meu namorado tinha feito o favor de me "vender" melhor do que eu própria conseguiria! Ela nem me perguntou por experiência profissional nem nada. Começou logo a mostrar-me o café, ligou à irmã (que é a dona do espaço) a dizer-lhe que tinha encontrado uma colaboradora que era exactamente o que procuravam e pediu-me para começar no dia seguinte! Oh! Como fiquei feliz!
E foi assim que voltei a trabalhar em algo que sempre gostei, num espaço que é exactamente a minha cara, com pessoas espectaculares, e para onde vou sempre arranjada ao estilo 50's, porque as proprietárias do espaço até fazem questão!
O sitio lindo onde trabalho chama-se Museu do Chá. Tem uma decoração muito peculiar: vintage, os móveis são todos recuperados, e o mais pequeno pormenor é fascinante! É um salão de chá, serve almoços e tem doces conventuais. Não vende comidinha vegana, mas se um dia me visitarem, eu prepararei algo completamente vegano e bem saboroso para vos receber da melhor forma :)
Na passada sexta-feira tivemos noite de fados... Oh, foi um sonho para mim! Eu adoro fado, e trabalhar num sitio lindo, ir vestida da forma que me sinto melhor (que é com os meus vestidinhos de avózinha) e ainda participar numa magnífica noite de fados é tão bom que nunca chegaria a desejar algo tão fantástico!
Só há uma coisa que me deixa triste. Eu adoro o que faço no Museu do Chá, e trabalho muito mais do que as 8 horas diárias. Dedico todo o tempo que consigo à divulgação do espaço, a fazer flyers e outras coisinhas, a contactar pessoas que nos podem ajudar na divulgação e no crescimento da casa (porque se a casa ganha, eu também ganho), mas não consigo ver retorno. Sei que os dias têm sido razoáveis, as pessoas adoram a comida caseirinha que servimos ao almoço, mas no meu horário da noite tenho tido pouca afluência, o que se torna frustrante. Preferia chegar ao final da noite completamente estafada por ter tido muito trabalho, do que frustrada por só ter servido meia dúzia de cafés.
Aquele espaço tem imenso potêncial e todos os que o visitam ficam encantados, por isso espero que melhores dias não tardem em vir e que em breve eu não tenha mãos a medir para atender os clientes que me entrarem por aquela porta dentro :)
Enquanto tenho este trabalho agora, tenho também o meu trabalho de investigação para fazer, o que me tem roubado todo o tempo que não estou a trabalhar. Ultimamente não tenho tido possibilidade sequer de dormir um número de horas aceitável por causa dessa tortura que é investigação. Estou a fazer algo que não me dá qualquer gozo e só lamento o dia em que não mantive a minha ideia inicial de fazer o trabalho sozinha e ter enveredado pela realização de uma revisão bibliográfica (em vez de fazer um trabalho de "campo"): muito provavelmente já estaria feita e eu não me teria cansado nem metade! Na verdade, lamento cada vez mais o dia em que coloquei o meu curso em primeira opção naquele papelinho de inscrição ao ensino superior. Foi o único erro que fiz na vida porque foi uma opção que nunca, em momento algum, me trouxe vantagens ou felicidade, muito pelo contrário!!
Com isto não tenho cozinhado absolutamente nada. Tenho gasto o stock de comida congelada que tenho no frigorifico, e como apenas sopa e pão no trabalho. Não ando a ter uma alimentação nada saudável, mas espero vir a recuperar e a ter mais tempo para mim e para a cozinha a partir de Setembro, após a (stressante) época especial de exames.
Mesmo assim, deixo-vos aqui uma receitinha que fiz antes de todas estas mudanças que tive na minha vida.
Eu não anotei a receita na altura, mas tenho na memória os ingredientes que usei. Mesmo assim não estou certa de todos, nem das quantidades. Espero não estar a fugir muito daquilo que fiz... E peço que me perdoem pelas fotos de péssima qualidade - foram o que se conseguiu na altura.
Para 10 a 12 bolinhos usei:
1 lata de grão de bico (cozi e processei na liquidificadora com um pouco da água da cozedura)
1 cebola picada
1/2 chávena de quinoa cozida
2 colheres de sopa bem cheias de farinha de linhaça (misturadas em 4 colheres de sopa de água)
1 ou 2 dentes de alho picados
1 colher de sopa de coentros picados
2 colheres de sopa de salsa picada
Cominhos moídos q.b.
Caril q.b.
Sal & Pimenta
Azeite
Pão ralado q.b.
Leve uma frigideira com um fio de azeite ao lume e aloure a cebola e o alho. Junte à pasta de grão de bico, juntamente com a quinoa e os temperos.
Junte pão ralado até conseguir alcançar na massa uma textura que permita moldar bolinhas.
Forre um tabuleiro com papel vegetal. Molde bolinhas de massa e espalme-as um pouco. Leve ao forno a assar, até dourarem.
Entretanto faça o molho. Para ele usei:
1 abacate
1 colher de chá de tahini
Sumo de uma lima
1 ou 2 dentes de alho
1 colher de sopa de coentros
1 colher de sopa de salsa
1/3 copo de água
Sal & Pimenta
Junte todos os ingredientes na liquidificadora e bata. Reserve no frigorifico até servir.
Bem, senhores, preparem-se para se deliciarem! Os bolinhos ficaram com uma textura leve e linda! A superficie ficou com uma pequena crosta, mas por dentro encontrava-se uma massa leve, nem muito massuda nem demasiado cremosa. Ficaram óptimos! Espero que tenham a mesma sorte que eu e consigam a mesma consistência :) Depois venham contar-me como adoraram estes bolinhos. Esta receita dá para duas refeições (de dois comilões, claro). No meu caso deu para três :)